sábado, 18 de abril de 2009

Carpideira


Compadece-te de mim?
Choro como fosse o fim,
Sangro os olhos como o céu
Sangra pela tempestade,
Mas te digo, na verdade,
Este pranto não é meu.

Em quem vê-me dói-lhe a alma,
Míngua a paz afasta a calma,
Escurece como o breu,
Amofina um grande amor,
E repito sem pudor:
Este pranto não é meu.

Sei que corre em minha face,
Em meu olho acha que nasce
E, que a brisa leva ao léu.
Pois vos digo, com efeito,
Tem origem n’outro peito;
Este pranto não é meu.

Vem de um peito diferente,
Um que não mostra o que sente,
Que há muito se perdeu;
Tornou frio, nisso creio,
Logo, falo sem receio:
Este pranto não é meu.

Entregou-se à apatia
Pondo a vida à revelia,
Sem batalha se rendeu.
Ainda assim eu não me importo,
Faço a vez de um peito morto.
Este pranto não é meu.

Quando à noite com a amada
Disse um nome sufocada,
Mas o nome não é o teu.
O punhal no seio, o erro,
Estridente e surdo o berro,
Este pranto não é meu.

E mal come e mal dorme,
Culpa afoga um grito enorme,
O pulmão cheio de Fel.
Junte forças pra gritar,
Já não posso segurar,
Este pranto não é meu!!!

Infla o peito e vá à luta,
Frente à realidade bruta:
- O pecado que é só seu.
Vem, reclama o teu despojo,
Desfaz essa tez de nojo
Que este pranto não é meu!


1 comentários:

Anônimo disse...

Gostei muito deste poema!!! Você realmente tem muito talento para jogar, brincar, chocar, com as palavras!!! Parabéns!!!