Compadece-te de mim?
Choro como fosse o fim,
Sangro os olhos como o céu
Sangra pela tempestade,
Mas te digo, na verdade,
Este pranto não é meu.
Em quem vê-me dói-lhe a alma,
Míngua a paz afasta a calma,
Escurece como o breu,
Amofina um grande amor,
E repito sem pudor:
Este pranto não é meu.
Sei que corre em minha face,
Em meu olho acha que nasce
E, que a brisa leva ao léu.
Pois vos digo, com efeito,
Tem origem n’outro peito;
Este pranto não é meu.
Vem de um peito diferente,
Um que não mostra o que sente,
Que há muito se perdeu;
Tornou frio, nisso creio,
Logo, falo sem receio:
Este pranto não é meu.
Entregou-se à apatia
Pondo a vida à revelia,
Sem batalha se rendeu.
Ainda assim eu não me importo,
Faço a vez de um peito morto.
Este pranto não é meu.
Quando à noite com a amada
Disse um nome sufocada,
Mas o nome não é o teu.
O punhal no seio, o erro,
Estridente e surdo o berro,
Este pranto não é meu.
E mal come e mal dorme,
Culpa afoga um grito enorme,
O pulmão cheio de Fel.
Junte forças pra gritar,
Já não posso segurar,
Este pranto não é meu!!!
Infla o peito e vá à luta,
Frente à realidade bruta:
- O pecado que é só seu.
Vem, reclama o teu despojo,
Desfaz essa tez de nojo
Que este pranto não é meu!
sábado, 18 de abril de 2009
Carpideira
Postado por Maranhão Moreira às 10:10 1 comentários
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Toda a vastidão de um sonho
De sonhar a vida a fora sinto falta,
Sonambúlico há tempos me enxerguei,
Durmo à vida, mas minha alma a ela exalta...
Vagamundo, taciturna e sem lei.
De pensar, o corpo hirto e a alma nauta,
Tesos membros, zumbiforme assim me sei;
De vagar no divagar minh’alma salta,
Vejo o corpo no infinito que sonhei.
Contemplando o revelar do universo,
Vocifera, fosse fera, em mim imerso;
Turbilhão, revolução meu ser acalma.
Mas não cabe neste corpo enfadonho,
Quando toda a vastidão que há num sonho
Cabe, pois, numa gotícula de alma.
Postado por Maranhão Moreira às 07:29 0 comentários
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Negra chuva ( Ódio )
Vem, maldita.
Cai, maldita.
Despenca, maldita.
gotas enegrecidas de um céu cinza
chegam ao solo
espalhando outras
milhares de gotas.
faz uma pequena cratera.
cai outra, e outra após outra.
quem assim te fez?
quem te lança?
quem te colhe?
quem te escolhe?
Vem, maldita,
cai e me molha,
me esfria a pele,
me congela o sangue.
Cai, maldita,
me inunda com tua fome,
com tua cólera me consome.
Despenca, maldita
nos meus olhos
que já não olho com os mesmos olhos.
Vem e tinge de preto
O céu do meu rosto pálido,
a minha mente.
Cai e toma conta da minha boca,
minhas narinas, minhas orelhas.
pois, minha vontade perante ti
nunca, - mas nunca mais -
cairá de joelhos.
Postado por Maranhão Moreira às 16:59 0 comentários