segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A flor



Ontem, ao passar por um descampado
Avistei uma flor tremendo e fria.
Não derramasse nela a luz do dia,
Seu coração seria já gelado,

Perguntei o que a tinha incomodado
Tanto que no descampado a fazia
Chorar o orvalho em mais pura agonia
Como nunca havia flor então chorado.

E me disse, ao morrer, em aflição:
“Como vive... uma flor... em seco... chão?”...
Correndo a abracei com seus espinhos...

Machucado, agarrei seu corpo langue
E molhei com lágrimas e com sangue
Aqueles secos, sofridos pezinhos.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Los dioses: La lluvia

 
Eu, a chuva fria, pequenina e fina,
Caio dançando do céu gris, nublado;
Me espalha, tua mão fina e pequenina,
Ri com meu canto doce no telhado.

Minha mera presença já amofina
Esse dia ensolarado, enfadado;
Trago à tona a infância da menina
Ébria pelo cheiro de chão molhado.

Faço tudo e te cobro muito pouco.
Varro a rua, que tu passas, como louco!
Soberba, deslizas indiferente...

Aviltada não vês tanto que faço.
Dando as costas, me negas quente abraço,
Só porque molho os campos doutra gente.