domingo, 11 de novembro de 2012

O cativeiro


Por séculos tenho estado cativo,
Prisioneiro de alcova sem corrente
Que me rasga a carne e entorpece a mente,
Mata-me aos poucos, mas me mantém vivo.

Miro meu algoz que mira-me lascivo
 Com seu olho esbugalhado, doente;
No canto da boca um riso indolente
Me gela a espinha e vejo que ainda vivo.

Tal qual serpente, enrosca e me sufoca;
Seus deuses pagãos, aos gritos, evoca;
Desfaleço e pairo em brumas eternas...

Acordo e vejo a figura grotesca
Debater-se extasiada, animalesca
E eu, indefeso, no nó das suas pernas.