quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Verme



Chão frio, que aceita tão débil semente
Dos confins do corpo meu – raquítico,
Execrado! Imundo sangue cístico,
Cuide tu deste hediondo acidente!

Na vida hei passado tão somente
Devido a um vil desejo anafrodítico
De um ser inerte e outro paralítico
Em um ato animalesco e demente.

Aceita, ó terra, este ser que te implora;
Que, combalido, nem ao menos chora;
Que se contorce aqui no teu jardim.

Faz da minha carne tua, cara amiga!
De tantos outros vermes que abrigas.
Por que tu não tomas também a mim?!!


sábado, 1 de outubro de 2011

Ode a um mentiroso


Mentir faz, sim, parte da vida, amigo;
Como comer, dormir e respirar.
É uma arma de destruição sem par,
É, p’ra alma sofrida, o melhor abrigo.

Mentir faz sentir-se melhor consigo
Se fazes, do seu quente abraço, lar.
A consciência é só mais um lugar
P’ros fracos a procura de castigo.

A mentira, amigo, é um canto doce,
Uma fonte, um regalo e um escudo;
É andar seguro no mundo a esmo.

P’ros males é uma solução precoce;
Faz-se um suave remédio p’ra tudo
Quando todos crêm, até você mesmo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ninfa


Gosto de ver a sua boca entreaberta
Grunindo e gritando – puro desejo,
E, sufocando, foge do meu beijo
Quando, à unha, rasga as costas que aperta.

Gosto se de olhos fechados me oferta
A carne trêmula que tanto almejo.
Explodo em seu corpo e em êxtase vejo
Minha boca ser pela sua coberta.

Ai, amo quando ela exala seu cheiro
De paixão, tesão, de bicho no cio
Que rápido se mistura ao suor,

Inundando minha alma por inteiro,
Expurga completamente o vazio.
Vem e me toma, minha ninfa do Amor!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Saudosismo


Lembro dos balanços na goiabeira,
De acordar cedo e sentir a alvorada,
Das frutas maduras dependuradas,
Tão variadas quanto bancas de feira.

Lembro minha mãe me acordar ligeira,
Do cheiro do café feito apressada,
Lembro da sua meiga face cansada,
Mas que meu pai, rindo, dizia faceira.

Lembro do beijo na testa ao ir à escola,
De com os coleguinhas jogar bola,
Do brincar de viver como quem vive.

Lembrando sigo pela vida a fora...
Mas por que me sinto assim, logo agora,
Tão saudoso de um lar que nunca tive?


domingo, 23 de janeiro de 2011

A partida


Será que ela viu meu olho choroso
Por detráz do meu sorriso amarelo?
Viu ela no meu adeus o apelo
Angustiado de um peito já saudoso?

Derramou ela seu olho mimoso,
Molhando o gracioso rosto singelo?
Sangrou de tristeza o peito tão belo
Ao ver aquele adeus tão doloroso?

Enquanto eu, de pé na estação a olhar
A ida da minha amada senhora,
Não conseguia rir, nem mesmo falar.

Tanta confusão! só percebo agora
Que o trem que a conduzia de volta ao lar
Também levava meu sorriso embora.