segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Simplesmente... Bela



Minhas palavras totalmente atadas
Repousam cá num canto duro e frio
Ao olhar teu corpo belo e esguio
Serpentear com tuas feições de fadas.

Ah! Meu coração bate a machadadas
No insólito devaneio que fio,
Mas, se ris, não contenho e também rio
Enquanto o peito explode em gargalhadas.

Nublam-se completamente os pensares
Por todos os movimentos incertos,
E os pudores se esvaindo nos ares;

Teu sotaque pôe ouvidos despertos;
E em todos os lugares que passares
Deixarás, sempre, a todos boquiabertos.


Lua minguante



Quando tu, Lua minha, chegaste a mim
Co'a luz opaca roubada de outrem,
Pensando-se iluminada, mas sem
Saber que, ali, fora escrito o teu fim.

Zuniram nos céus trombeta e clarim,
Arcanjos se derramaram em desdém,
Quando louvores e quereres-bem
Lograste do mais puro querubim.

Chorou também o guerreiro mais forte
Ao deparar-se com a tua triste morte
E com o vazio que cá no céu deixaste...

Mas a alvorada encheu-se dum clarão
N'olho, um brilho trouxe gran comoção...
Quando em um novo Sol te transformaste.


Braille



Hoje leio novamente o soneto
No livro do teu belo corpo escrito;
Às vezes sussurro, às vezes grito,
Quando na catarse do teu ser me meto.

Absorto em teu enredo quedo quieto,
Atônito qual leitor neófito.
No fim, aos prantos, duas vezes repito
A aliteração do último terceto.

Nos versos, me deleito em linhas curvas,
Leio-te em Braille, com as pontas dos dedos
Tateantes nas páginas gris e turvas.

Leio-te totalmente, frente e verso;
Fico tão faminto dos teus segredos
Que recomeço do primeiro verso.