sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dissabor


Sinto um grande ressentimento
Quando passas, minha flor,
Com o andar de bambu ao vento,
Despertando por um momento
Na minh’alva face o rubor.

É enorme acontecimento
Quando o teu quadril transgressor
Sem o menor acanhamento
Arranca um suspiro, um lamento,
Ilude um pobre sonhador.

Enquanto eu, coitado, olho atento,
Irrompo num grave clamor,
Pois rogo por merecimento,
Até um ar galante invento,
Dos olhares lanço o melhor.

Contudo teu ser pirracento,
Travestida em puro frescor,
Com um toque de acanhamento,
Sangra o estanque ferimento
Co’um sorriso perturbador.

Dói... e me contorço em tormento,
E dói sem ao menos ser dor;
De dentro pra fora arrebento;
Ao lado ouço um corvo agourento
E me derramo em dissabor.