terça-feira, 22 de setembro de 2009

Epístola à música


Cara amiga de jornadas hoje infindáveis,
De novo recorro a ti em hora de pranto;
E os prantos, que relembro tanto, memoráveis,
Amenizados por teu doce acalanto.

E novamente pranteio aqui no meu canto,
Assombrado pelas sombras abomináveis;
E sustentado em teu braço forte levanto
E logo flutuo em melodias adoráveis.

Certamente, outras boas amigas conquistei;
Em tantos outros colos, também, lastimei,
Mas de ti nunca esqueci, amiga querida.

Pois naqueles momentos de grão desespero,
Desesperançoso do destino severo,
Lá sempre estavas, amiga pra toda a vida.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Parasita


Olhas fundo os olhos tristes
E também triste se faz.
Na dor alheia insistes
Ser tua a dor, mesmo fugaz.

Por piedade persistes,
Repleto de dó vivaz.
Um sentimento que diz-te:
Sofra junto e viva em paz.

Mas esta chaga é pequena
Pois pior que a dor é a pena
Esta parasita, imprópria.

Suga a amargura alheia
E arma esta insana teia
Para esquecer a sua própria.

Por que esperas que tudo a ti diga?


Por que esperas que tudo a ti diga,
Quando nem mesmo eu sei o que se passa?
Vês no silêncio meramente intriga
E no olhar perdido vês ameaça.

Por que esta urgência em tornar briga
O que no fundo é mera carapaça?
Essa calma que é apenas amiga,
Amiga que a tormenta rechaça.

Por que não exercitar a paciência
E exaltar tão antiga ciência
Em nome de tudo por nós vivido.

Por que não dar vez à serenidade?
Que mal pode vir da afabilidade?
Por que a mordida antes do latido?