sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O que o amor me fez



Em algum momento desta festa dionisíaca,
Quando ela estava explodindo em devaneios
Ele se fez presente e, em alto tom,
Mostrou logo a que veio;
Esbravejou aos quatro ventos
As belezas de com ele andar.
...
A festa já estava a mil.
Generosas doses de licor,
A música alta, hipnotizante,
Espessa em languidez,
Os murmúrios aos ouvidos,
Corpos vagando a esmo,
O constante ar quente
Que aquecia os ânimos
E uma brisa esporádica.
Mas o amor chegou
E, no princípio, me embriagou;
Foi um porre de uma noite apenas,
Mas que deixara manchas,
Que como câncer, expandiram-se.
E de tanto procurar,
Meu covil foi descoberto
E, muitos porres depois,
Cá estou a cismar
O que o amor me fez...
Hoje respiro porque amo,
Trabalho porque amo,
Vivo porque amo,
Até me visto de amor;
Busco em cada momento ocioso,
Enlouquecido por mais uma dose,
Mais um dos tantos porres
Que tão bem me fizeram
E que muito de mim arrancaram.
Contudo só de ralas doses
Hoje sou merecedor.
E corro, e busco,
E morro, me ofusco.
O que o amor me fez?!!
Lembro dos amigos q tive;
Dos momentos que, com eles, ri;
Das loucuras que, sem pensar, fiz;
De acordar de madrugada
Com meu nome escorregando
Pelos cantos de bocas embriagadas...
E felizes...
Do frescor que então era viver.
Lembro das roupas que vestia;
Da bebida que bebia;
Dos estranhos que eu dava bom dia;
Dos cachorros de rua a me olhar
Quando dava pulinhos para despertar.
Só não lembro meu nome.
Não esqueço a família que tanto me ajudou,
Nem do zelo por meu bem estar;
E vejo quão triste a casa da minha mãe ficou
Sem minha música,
Minhas piadas sem graça
Que, incontáveis vezes, a fizeram reclamar.
Posso agora mesmo ouvi-la
Lamentar-se do volume.
Ainda espero vê-la algum dia,
Já que, nos seus últimos momentos,
Lá não estava para ampará-la.
Às vezes, acordo à noite e lembro de mamãe
E grito aos soluços
Sufocado pelo travesseiro:
“Me perdoa minha mãezinha querida!”
E prometo, já quase adormecendo,
Nunca mais amar tão loucamente.