quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Saudade


Saudade, sentimento controverso;
Em mil e uma facetas vestida;
Desperta em cada alma um universo
De dores, amores, morte... e vida.

Exige que esteja p’ra sempre imerso
Na presença - mesmo que descabida;
Subornando-me a fazer este verso.
Saudade, essa louca ensandecida.

É uma espada cravada no peito,
Ter que sobreviver da dor afeito.
Matar-te-ei decrépita sandia!

Sufocas tudo o que é felicidade.
Porém, pior q morrer de saudade
É ter que, com ela, viver mais um dia.

Canção chorosa


Meu filho! Fruto de minhas vidas,
Hoje de novo pranteio e sinto
Um pesar enorme – não te minto,
Que abre ainda mais estas feridas.

Filho! Filho meu! Por que duvidas
Deste grande amor que a ti pinto
Com tintas d’ouro? Só assim consinto
Dar tal tela à aquarela de Midas.

Cinco longos anos nos separam.
Fenda quilométrica que aumenta
E rói estas chagas que não saram,

Implodem, e o meu peito arrebenta.
Cova onde os medos sepultaram
Tamanha dor e tanta tormenta.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Meduza



Assim que a vi demais me encantei,
Pairando acima do rústico chão,
Enchendo meu peito de tal sensação...
Tão bela rainha e tão pobre rei.

Baixei a cabeça, ocultei sensações.
Os olhos arderam por tamanho brilho,
Queimando da podre retina ao cílio
Tal qual fogo do fôlego de dragões

Um medo feroz tomou minha mente,
Tremi. Por instinto pensei em correr,
N'um súbito arranquei e parei de repente,

Petrificado não soube o que fazer.
N'uma rua tomada de gente
Fui condenado a em teu olhar padecer.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

deus é misericordioso


Adornado com uma vela e flores
Murchas roubadas do vizinho ao lado,
Miro meu seco rosto com enfado;
Moldura perfeita de minhas dores.

Que vermes terão no emadeirado
Depósito vil de tantos fedores
Ousadia de ser carrasco e senhores
E alimentar-se de tanto pecado?

Percebo-me livre daqueles trapos
Com a aura expandindo em fiapos
Sinto-me novamente poderoso

Já pensava em novas atrocidades
E agradecia à maior das verdades
Há! Há!... deus é misericordioso.

sábado, 1 de novembro de 2008

Pessimismo


Um feixe de luz invade a barraca,
Silêncio ressalta o gorjeio d’aves,
Assombrosos grunhidos ditam graves,
Gralha, coruja, hiena, matraca.

Do alçapão celeste o sol tem as chaves,
Penetra a vista como ardente faca,
E o peso da vitalícia ressaca
É só mais um desses mortais entraves.

Me enjoa o cheiro de terra molhada,
A mesma ânsia de restos fecais,
E p’ra aumentar a minha frustração

Belos pássaros partem em revoada,
Mas não há no mundo o que me doa mais
Do que esse lindo dia de verão.