segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Voa! Voa grandiosa...



Se um animal eu devesse pintar-te,
Estamparias tu lustroso estandarte;
Pintar-te-ia qual um'ave selvagem;
Pintar-te-ia uma águia ou condor
Na esperança de captar o esplendor
Que só emana da tua áurea imagem.

Tu estarias livre no céu planando
Por sobre as nuvens de chuva até quando
Dissipassem-se e o sol morno surgisse
E pudesses descer p'ra contemplar
Colinas, montes e vales e o mar,
E tudo que a tua visão permitisse.

O esboço da asa, d'um anjo seria,
O bico d'um grifo ou d'uma harpia
Figurariam bem em teu retrato,
Os olhos brilhantes qual labaredas
Escrutinando abaixo as veredas;
Libertando do peito o grito hiato.

Desenharia-te sempre nos céus
O mais próximo possível de Deus,
Voando na alvorada fria e calma.
Voa! Voa grandiosa ave em pluma amarela,
Não deixes que o toque desta aquarela
Exalte a beleza e manche tua alma.

sábado, 13 de setembro de 2008

Amor... Amores...



Flor...
Flores...
Finitos
Labores...
Falhos
Rumores...
Sonhara
Árvores...
Findam
Murchar...

Cor...
Cores...
Cultos
Sabores...
Cantos...
Calores...
Tantos
Bolores...
Cuidam
Manchar...

Dor...
Dolores...
Dúbios
Amores...
Dantescos
Horrores...
Dança
De cores...
Destinam
Murchar...


Amor...
Amores...
Alvos...
Em cores...
Aos ramos
De flores...
Afoguem
As dores...
Assim...

...Murchar...

Urubus


Vi um urubu sobrevoando,
Com um olhar de luxúria fitado.
Do céu viu um tom esverdeado,
Sob cem moscas se acotovelando.

Aos poucos foi-se ajuntando um bando,
Pelo doce fedor exalado.
Crescendo um delírio exaltado
E uma onda faminta aumentando.

E todos avançaram de uma vez.
Se estapearam e se bicaram.
Travaram uma guerra infernal.

Tórrido cume da insensatez.
Só acabou quando garis passaram
E apanharam a nota de um real.


Cemitério n’alma


Um fúnebre cortejo te acompanha
Última homenagem que teu ser ganha
Depois de tanto querer ter vivido.

Do rosto mais alvo que o costumeiro
Usurpo teu sorriso derradeiro
Eu, possessivo, louco... sem sentido.

Sei que sorria na tua despedida
Que não dava valor àquela vida
É que, tolo, não havia percebido.

Lembro, não és a primeira que parte
Fiz do adeus a minha principal arte
E torpe sou por ter tanto sofrido.

E indagas da minha face serena
Minha dor lhe parece tão pequena
Como se nunca houvera dor sentido.

É que possuo um bem que tudo acalma
Tenho em mim um cemitério n’alma
Onde enterro tudo que me é perdido.